quinta-feira, 7 de julho de 2011

MEC

 Uma grande amiga nossa,  de grande espírito e humor, sentada à espera no magnífico IPO, já pós operatória e a meio da quimioterapia, enfrenta outra doente mais preocupada do que ela e, para aliviar a atmosfera, diz, com concisão brilhante: "Putas das mamas!"
 A presumível cúmplice, indignada, vira-lhe a cara. Contou-me a Maria João, com feliz aprovação. Não é só literalmente perfeito. É impossível definir melhor, ao mesmo tempo, o cancro da mama, o papel das mamas no jogo do sexo e na não-brincadeira da maternidade, mais o fado e a praga do estrogénio, fora a sorte e o azar de se ser mulher, do que estas cinco sílabas e treze letras apenas:"Putas das mamas!"
 É um titulo de uma peça de teatro ou de um livro que está por escrever, de um documentário ou de um filme que está por filmar. Seria errado e de mau tom buscar uma equivalência masculina, como " Cabrões dos colhões!", para as vítimas do cancro testicular, que é muito mais raro.
 Há suficientes homens com cancro da mama para concordarem com o vatícinio. Sentem-se, sem razão, como os cancerosos do pulmão que nunca fumaram ou como os cirróticos do fígado que nunca beberam uma gota de álcool. Mesmo assim, esta nossa amiga definiu para sempre a desigualdade que atinge as mulheres, já que as mamas não são coisas pelas quais se interessem por aí além, embora constituam a maior vulnerabilidade e o maior perigo. Que só os grandes espíritos - geralmente femininos - vencem.

Miguel Esteves Cardoso (Público 30.04.2011)

1 comentário:

Anónimo disse...

:)

Muito bom. ou não fosse o MEC. ;)

Força nisso! BeijOoOoOO