E quando vamos dormir...

Estou irritada, estou desiludida, estou zangada e triste, estou farta… Há poucas horas atrás, perto das 9 e meia, ouço a minha vizinha aos gritos, como nunca a tinha ouvido. Um grande alarido da vizinhança do 1º andar que corria pela escada até ao rés-do-chão. Fui ver o que se passava. A minha vizinha tinha sido assaltada e casa toda revirada. Chegou a casa e notou que havia luz em casa, e ela quando saiu apagou as luzes todas. Ainda se cruzou com o assaltante quando este saia pela janela, ao aperceber-se da presença dela. O resultado disto pode ser traduzido em ouro roubado, o telemóvel e respectivo carregador e um Channel nº5. Polícia chamada e pouco disseram… falou-se em impressões digitais, mas o tipo usava luvas, o que não terá grande consequência. No meio disto tudo, acabei por pensar em mim… eu moro no mesmo sítio, no mesmo rés-do-chão, com a diferença que o meu é virado para trás, para um quintal e o dela virado para a estrada, onde estão sempre carros e pessoas a passar. No meio da confusão, do estado nervoso da vizinha, dos agentes e da situação que é má, eu senti medo… E se fosse eu? E se fosse a minha casa? Eu, no último ano, venho a dizer que quero sair daqui para dar a mim própria um novo começo, afinal nesta casa vivi alguns anos de uma relação que acabou, e da qual me preciso libertar de vez. E tive medo, pela primeira vez, desde que fiquei sozinha nesta casa, eu tive medo… Medo e uma raiva, que não sei de onde vem, por ainda aqui estar e porque agora não tenho condições de sair daqui. Um raiva dessa gentalha que por uma merda de um chanel nº5 invade a privacidade de uma casa, de alguém que todos os dias sai para trabalhar, para estudar, para produzir… que passa o mês a contar os trocos para ver se chega ao dia 31… Que leva a nossa vida dentro de uma mochila, vai até ao ponto de encontro e troca por uma dose. Mas nós, pessoas que não fazemos nada a ninguém, que apenas rezamos por saúde e trabalho, que o resto há-de vir… acabamos o dia e pensamos…tenho medo…